Vai Piorar

Paulo Truglio é médico nutrólogo

BRASIL, Setembro de 2020.

Não há o que comemorar no Brasil neste final de inverno. A absurda cifra de 131.274 mortos pela epidemia do SARS CoV 19 no momento em que escrevo este artigo (13/09/2020), vírus cuja doença foi batizada Covid-19, alçou o Brasil a um recorde nada feliz, superou a Espanha e diversos países do leste.

Mas essa mortandade tem nome e sobrenome, além de ter sido eleita pelo voto direto e democrático nas eleições presidenciais de 2018. Não que seja a causa, é claro, mas é, sem duvida alguma, um grande complicador, conforme bem pode ser visto através da imprensa internacional. O que se elegeu não foi uma pessoa, mas uma ideia. Uma daquelas que já fez a humanidade tremer nas bases em passado não muito remoto.

Países do mundo todo fazem circular seu desassossego para com o atual mandatário brasileiro, seja pela política francamente entreguista, pelo descaso com a Amazônia em particular, e pelo meio ambiente em geral, sem contar o viés francamente fascista de sua administração. Esses fatos são conhecidos por quem lê, ainda que minimamente, a respeito do Brasil.

Mas não é este o foco deste artigo. Se está mal, pode piorar ainda mais.

Amartya Sen, professor de economia e filosofia na Universidade de Harvard, ganhou o prêmio Nobel de 1998 em parte por seu trabalho em demonstrar que a fome, nos tempos modernos, não é tipicamente o produto de uma falta de alimentos, mas sim, frequentemente gerada a partir de problemas nas redes de distribuição de alimentos ou de políticas governamentais no mundo em desenvolvimento.

Muito embora o combate à fome seja factível, é também verdade que , com poucas canetadas, um governo pode colocar a perder anos de trabalho implementados em períodos anteriores.

Se vista a palavra “política” pelo seu significado mais puro, podemos vislumbrar que, tanto a fome quanto a sua ausência, são questões políticas, uma vez que ambas interferem diretamente na pólis, no povo. É nesse momento que se nota o valor de um país ter ou não um círculo de proteção social.

Nesse sentido,temos que, em 2009, segundo o IBGE, 11,2 milhões de brasileiros — 5,8% da população — passaram fome por não terem recursos para comprar comida.

Em junho de 2013, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) premiou 38 países, entre eles o Brasil, por terem reduzido a fome pela metade bem antes do prazo de 2015, estabelecido pela ONU nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. O cumprimento da meta pelos países premiados considerou a diferença do número de famintos entre 1990 e 1992 e entre 2010 e 2012.

Cabe lembrar que, nas eleições de 2001 para a presidência do Brasil foi eleito um progressista cujo primeiro ato foi se propor a colocar na mesa do pobre três refeições ao dia. Nascia o programa Fome Zero, seguido por outros programas de inclusão social de imensa envergadura. Entre eles o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, o Luz Para Todos, a isenção de IPI (Imposto sobre Produção Industrial) de toda a ‘linha branca’ (fogões, geladeiras, lavadoras de roupa, etc.), além da mesma isenção para a aquisição dos automóveis 1.0) durante a chamada Crise Econômica de 2008. Graças a essa medida anticíclica, o Brasil reduziu em muito o impacto de tal crise no Brasil e manteve seu crescimento sustentável pelos anos seguintes.

No final de 2014, o índice de desemprego [TAXA MÉDIA ANUAL EM %] foi a repetição do mesmo indicador no ano anterior – 4,3% da população economicamente ativa estavam desempregados. Pelos padrões internacionais, esse índice equivale ao chamado ‘pleno emprego’. Atualmente, conforme dados do IBGE e PNAD Contínua, o mês de Maio/2020 fechou com uma taxa de desemprego de 12,9%, ou 12,7 milhões de pessoas.

No último dia 6 de Setembro, a chanceler alemã Angela Merkel vaticinou: ” a pandemia não só continua, mas deverá em Outubro um nível muito alto e a Europa sofrerá muito mais do que no primeiro semestre “. E arrematou: “(…) a Alemanha continuará distribuindo renda de sobrevivência para todos os cidadãos sem renda.”

A situação é das mais graves que a humanidade enfrentou em períodos fora de guerras de alcance global. Há, contudo, muito a ser feito, a começar pelo que seguia bem em nosso País e foi, subitamente, amputado: o ciclo de crescimento sustentável, tão odiado pelas camadas mais altas da população.

(*) NOTA – Este é o primeiro de uma série de artigos cujo foco é fornecer ideias e eventuais soluções para os problemas presentes, bem como para aqueles que virão. Pretendo escrever um a dois artigos por semana. Até lá! Obrigado por ter chegado até aqui.


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