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Brasileiro, o mito

Sísifo cumprindo seu castigo

Desde o golpe completado em 2016, quando a presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, foi apeada do poder por um julgamento político de contornos violentos que culminou com seu impeachment, seja em palavras de seres que defendiam o torturador, que tanto feriram aquela mulher, além de tantas outras pessoas, fico a pensar. Julgamento de viés conservador, iniciado por um senador birrento, que não teve a hombridade de perder nas urnas, apoiado por um legislativo no mínimo omisso e corrupto, com o beneplácito de um judiciário com imensa atração pelas coisas pecuniárias, e sob os holofotes de uma mídia que, durante os catorze anos de governos progressistas, jamais foi censurada como ora ocorre.

Esse capítulo da História contemporânea do Brasil, que se seguiu de um sistemático desmonte das conquistas populares, da destruição da indústria naval, civil, militar, petrolífera, sem contar com a ameaça de privatização das águas (o Brasil detém 26% da água potável do planeta Terra). Que prendeu um líder popular até que as eleições de 2018 elegeram o atual mandatário. Desnecessário dizer que o País agoniza.

Há uma questão que me intriga na História do Brasil: como pode um país de proporções continentais ser refém de um sistema que repete golpes contra o povo de tempos em tempos, desde os tempos da invasão (não foi descoberta, foi invasão mesmo)? Como pode um povo, que mobilizou o país em Junho de 2013, não ter força de reação contra o que hoje sofre e sofrerá, de forma bovina?

Não tenho como fugir de um paralelo com a mitologia grega.

Sísifo, rei de Corinto, é cantado na mitologia como um ser extremamente inteligente e astuto (https://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-geral/sisifo). Sem entrar nos inúmeros feitos desse ser, certo é que Zeus, o chefão do Olimpo, mandou que ele fosse aprisionado nos infernos, tendo como castigo carregar uma imensa pedra de mármore pelas encostas de uma montanha até que, ao chegar próximo ao topo, tal pedra fosse derrubada montanha abaixo, promovendo o reinício do processo até o final dos tempos.

Sísifo tornou-se conhecido por executar um trabalho rotineiro e cansativo. Tratava-se de um castigo para mostrar-lhe que os mortais não têm a liberdade dos deuses. Os mortais têm a liberdade de escolha, devendo, pois, concentrar-se nos afazeres da vida cotidiana, vivendo-a em sua plenitude, tornando-se criativos na repetição e na monotonia, segundo a interpretação dos deuses (sic).

Pois assim tem se comportado o cidadão brasileiro após golpes sucessivos: um carregador crônico de pedras. Sobrevivente de um trabalho exaustivo e incessante que, ciclicamente o faz retornar ao início até o final da vida.

O mito de Sísifo foi abordado por Albert Camus, em 1941. Para ele, o homem vive sua existência em busca de sua essência, do seu sentido, e encontra um mundo desconexo, ininteligível, guiados por entidades sufocantes como as religiões e ideologias políticas.

Isso, esse estado de coisas, lembra ao leitor alguma semelhança com nossa situação atual?

Seria interessante lembrar que, já por conta do processo eleitoral, o atual mandatário era chamado, justamente de mito?

Camus, em sua obra, conclui que a solução em não encontrar um sentido não deveria ser o suicídio (real ou metafórico), mas sim a revolta, a insurreição. Assim, Albert Camus chega a três consequências da plena aceitação do absurdo: a revolta, a liberdade, e a paixão. A revolta, no que tange à constatação de que a vida é absurda, sem sentido; a liberdade, haja vista a nossa condição humana (estamos sós e escolhemos) e; a paixão, já que não se vive a vida de outro modo.

Posto isto, constato aqui, com meus botões, que o mito não é o atual presidente, mas nós, o povo brasileiro.

Se não reagirmos, ainda que adiantada a destruição, estaremos fadados a continuar carregando um imenso peso, monotonamente indo ao final de uma vida de desesperança.

Reagir ou persistir-se escravo.

Paulo Truglio é médico

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Vai Piorar

Paulo Truglio é médico nutrólogo

BRASIL, Setembro de 2020.

Não há o que comemorar no Brasil neste final de inverno. A absurda cifra de 131.274 mortos pela epidemia do SARS CoV 19 no momento em que escrevo este artigo (13/09/2020), vírus cuja doença foi batizada Covid-19, alçou o Brasil a um recorde nada feliz, superou a Espanha e diversos países do leste.

Mas essa mortandade tem nome e sobrenome, além de ter sido eleita pelo voto direto e democrático nas eleições presidenciais de 2018. Não que seja a causa, é claro, mas é, sem duvida alguma, um grande complicador, conforme bem pode ser visto através da imprensa internacional. O que se elegeu não foi uma pessoa, mas uma ideia. Uma daquelas que já fez a humanidade tremer nas bases em passado não muito remoto.

Países do mundo todo fazem circular seu desassossego para com o atual mandatário brasileiro, seja pela política francamente entreguista, pelo descaso com a Amazônia em particular, e pelo meio ambiente em geral, sem contar o viés francamente fascista de sua administração. Esses fatos são conhecidos por quem lê, ainda que minimamente, a respeito do Brasil.

Mas não é este o foco deste artigo. Se está mal, pode piorar ainda mais.

Amartya Sen, professor de economia e filosofia na Universidade de Harvard, ganhou o prêmio Nobel de 1998 em parte por seu trabalho em demonstrar que a fome, nos tempos modernos, não é tipicamente o produto de uma falta de alimentos, mas sim, frequentemente gerada a partir de problemas nas redes de distribuição de alimentos ou de políticas governamentais no mundo em desenvolvimento.

Muito embora o combate à fome seja factível, é também verdade que , com poucas canetadas, um governo pode colocar a perder anos de trabalho implementados em períodos anteriores.

Se vista a palavra “política” pelo seu significado mais puro, podemos vislumbrar que, tanto a fome quanto a sua ausência, são questões políticas, uma vez que ambas interferem diretamente na pólis, no povo. É nesse momento que se nota o valor de um país ter ou não um círculo de proteção social.

Nesse sentido,temos que, em 2009, segundo o IBGE, 11,2 milhões de brasileiros — 5,8% da população — passaram fome por não terem recursos para comprar comida.

Em junho de 2013, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) premiou 38 países, entre eles o Brasil, por terem reduzido a fome pela metade bem antes do prazo de 2015, estabelecido pela ONU nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. O cumprimento da meta pelos países premiados considerou a diferença do número de famintos entre 1990 e 1992 e entre 2010 e 2012.

Cabe lembrar que, nas eleições de 2001 para a presidência do Brasil foi eleito um progressista cujo primeiro ato foi se propor a colocar na mesa do pobre três refeições ao dia. Nascia o programa Fome Zero, seguido por outros programas de inclusão social de imensa envergadura. Entre eles o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, o Luz Para Todos, a isenção de IPI (Imposto sobre Produção Industrial) de toda a ‘linha branca’ (fogões, geladeiras, lavadoras de roupa, etc.), além da mesma isenção para a aquisição dos automóveis 1.0) durante a chamada Crise Econômica de 2008. Graças a essa medida anticíclica, o Brasil reduziu em muito o impacto de tal crise no Brasil e manteve seu crescimento sustentável pelos anos seguintes.

No final de 2014, o índice de desemprego [TAXA MÉDIA ANUAL EM %] foi a repetição do mesmo indicador no ano anterior – 4,3% da população economicamente ativa estavam desempregados. Pelos padrões internacionais, esse índice equivale ao chamado ‘pleno emprego’. Atualmente, conforme dados do IBGE e PNAD Contínua, o mês de Maio/2020 fechou com uma taxa de desemprego de 12,9%, ou 12,7 milhões de pessoas.

No último dia 6 de Setembro, a chanceler alemã Angela Merkel vaticinou: ” a pandemia não só continua, mas deverá em Outubro um nível muito alto e a Europa sofrerá muito mais do que no primeiro semestre “. E arrematou: “(…) a Alemanha continuará distribuindo renda de sobrevivência para todos os cidadãos sem renda.”

A situação é das mais graves que a humanidade enfrentou em períodos fora de guerras de alcance global. Há, contudo, muito a ser feito, a começar pelo que seguia bem em nosso País e foi, subitamente, amputado: o ciclo de crescimento sustentável, tão odiado pelas camadas mais altas da população.

(*) NOTA – Este é o primeiro de uma série de artigos cujo foco é fornecer ideias e eventuais soluções para os problemas presentes, bem como para aqueles que virão. Pretendo escrever um a dois artigos por semana. Até lá! Obrigado por ter chegado até aqui.


Cidadãos ucranianos agradecem às tropas russas pelo cuidado que nunca lhes foi dado pelo exército ucraniano. [fonte:RT]

Acima, tropas russas acolhem prisioneiros em Auschwitz, Polônia (hoje pertencente à OTAN e com traços russófobos), ao fim da Segunda Guerra Mundial.

Una residente de Mariúpol relató que el Ejército ucraniano atemoriza a los civiles asegurando que los soldados rusos les dispararán si salen de sus refugios. ⬇️ Vídeo abajo.

#Mariúpol #Soldados

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Proposta Chinesa de Segurança Global

Xi Jinping presenta una iniciativa en el ámbito de la seguridad global: ¿de qué se trata?

Publicado: 21 abr 2022 12:34 GMT

Texto copiado na íntegra do portal RT.com, boicotado pela censura no Ocidente.

3 minutes


El presidente chino se expresó en contra de la mentalidad de la Guerra Fría, del hegemonismo, de la política de poder y de la confrontación de bloques.

El presidente de China, Xi Jinping, formuló este jueves su propia iniciativa en el ámbito de la seguridad internacional, en cuyo marco instó a rechazar la mentalidad de la Guerra Fría y abstenerse en la confrontación de bloques.

El mandatario indicó que la humanidad vive en “una comunidad de seguridad indivisible”.

“Se ha demostrado una y otra vez que la mentalidad de la Guerra Fría solo destruiría el marco de la paz global, que el hegemonismo y la política de poder solo pondría en peligro la paz mundial y que la confrontación de bloques solo exacerbaría los desafíos de seguridad en el siglo XXI“, destacó.

Según la visión de la seguridad internacional del presidente chino, es importante:

  • Seguir comprometidos con el concepto de la seguridad “común, amplia, cooperativa y sostenible”, así como trabajar para mantener la paz y la seguridad en el mundo
  • Respetar la soberanía y la integridad territorial de todos los países y no interferir en sus asuntos internos
El presidente chino, Xi Jinping
  • Cumplir con los “objetivos y principios de la Carta de las Naciones Unidas, rechazar la mentalidad de la Guerra Fría, oponerse al unilateralismo y decir ‘no’ a la política de los grupos y enfrentamiento entre bloques”
  • Tomar en serio las “preocupaciones de seguridad legitimas de todos los países”, respetar el principio de la seguridad indivisible, crear una arquitectura de seguridad efectiva y equilibrada y oponerse a intentos de lograr la seguridad de una nación a expensas de la seguridad de otro país
  • Resolver las disputas entre las naciones de manera pacífica, a través de diálogos y consultas, rechazar el doble rasero y oponerse al uso de las sanciones unilaterales
  • Mantener la seguridad “en dominios tradicionales y no tradicionales” y “trabajar juntos en disputas regionales y desafíos globales, como el terrorismo, el cambio climático, la ciberseguridad y la bioseguridad”

“Los países de todo el mundo son como pasajeros a bordo del mismo barco que comparten el mismo destino. Para que el barco supere la tormenta y navegue hacia un futuro brillante, todos los pasajeros deben trabajar juntos. La idea de arrojar a alguno por la borda simplemente no es aceptable“, subrayó el mandatario chino.

“Tanques ucranianos disparaban a los civiles”: Emergen testimonios de los sótanos de Mariúpol a medida que se libera la ciudad”

ATENÇÃO – ESTE TEXTO ESTÁ SENDO COPIADO EM SUA ÍNTEGRA E TEM POR OBJETIVO MINIMIZAR A CENSURA AO SITE RT.com EM TODO O OCIDENTE. Link para acesso a esta publicação será enviado ao site original. NÃO À CENSURA DA MÍDIA RUSSA! O LEITOR DEVE TER AO SEU ALCANCE O CONTRADITÓRIO PARA QUE POSSA FAZER SEU…

“Tanques ucranianos disparaban a los civiles”: Emergen testimonios de los sótanos de Mariúpol a medida que se libera la ciudad”

“Tanques ucranianos disparaban a los civiles”: Emergen testimonios de los sótanos de Mariúpol a medida que se libera la ciudad”

⚠️ ATENÇÃO – ESTE TEXTO ESTÁ SENDO COPIADO EM SUA ÍNTEGRA E TEM POR OBJETIVO MINIMIZAR A CENSURA AO SITE RT.com EM TODO O OCIDENTE. Link para acesso a esta publicação será enviado ao site original. NÃO À CENSURA DA MÍDIA RUSSA! O LEITOR DEVE TER AO SEU ALCANCE O CONTRADITÓRIO PARA QUE POSSA FAZER SEU PRÓPRIO JUÍZO.⚠️

Publicado: 28 mar 2022 19:56 GMT

La ciudad, del sur de Ucrania, ha sido escenario de batallas encarnizadas entre las fuerzas rusas y nacionalistas ucranianos.

nullImagen satelital de uno de los barrios residenciales de Mariúpol (Ucrania), divulgada el 22 de marzo de 2022.Foto: 2022 Maxar Technologies / AFP

Mariúpol es escenario de enfrentamientos muy intensos entre las fuerzas rusas, que luchan junto las milicias de Donbass, y el Ejército de Ucrania, que tiene al lado los batallones nacionalistas.

En la ciudad, el 90 % de las viviendas se han visto afectadas y decenas de miles de residentes han sido utilizados como escudo humano por las cercadas tropas ucranianas.

Con las fuerzas rusas apretando el cerco, los residentes locales consiguen salir de los sótanos de los edificios. Junto a ellos, también salen a la luz las historias sobre lo que pasó en la ciudad asediada.

El Ministerio de Defensa de Rusia publica imágenes de helicópteros militares que realizan tareas de apoyo durante el operativo en Ucrania

“Ya no podíamos escondernos en el piso y corrimos al sótano. Nos escondimos en el sótano, y no tuvo ningún efecto el hecho de escondernos allí. Todo el edificio estaba temblando”, contó un residente local.

“Cerca de un jardín de infancia, donde había una tienda, ellos [los combatientes] colocaron morteros, cañones y dispararon contra un edificio. Anteayer, un tanque pasó por allí y disparó fuego directo a los edificios, ¡fuego directo!”, continuó.

Otra residente relató que los militares ucranianos no les ofrecían víveres ni la posibilidad de evacuar.

“No tenemos pan, ni agua, ni electricidad, ni calefacción, ni nada. Todos tosemos. Todo está mal. No recibimos ayuda de nadie desde hace un mes. Ni pan, ni agua. Para conseguir agua tenemos que correr bajo las balas”, afirmó la mujer.

Una ciudadana arriesgó su vida junto a 17 personas para escapar de los bombardeos.

“Fueron nuestros defensores los que nos bombardearon, el batallón ‘Azov’. Decidimos huir de allí porque nos dimos cuenta de que si pasábamos una noche más, simplemente moriríamos. Corrimos a través de la plaza hacia un refugio antibombas para, al menos, tomar un descanso después del bombardeo. Los tanques ucranianos circulaban y disparaban a los civiles, y los francotiradores también los atacaban”.

La mujer dijo haber pasado un mes en un refugio antibombas sin comida ni agua: “[Pedimos] agua, comida, teníamos niños pequeños… Y como respuesta recibimos proyectiles cerca de nuestro refugio”.

Otra habitante relató cómo intentó salir de la zona de guerra junto con su familia. “Empezamos a salir en un convoy de dos coches. Los dos primeros coches, el nuestro y otro, fueron tiroteados por francotiradores sin previo aviso, desde un hotel, alcanzando a mi hija tangencialmente. A mi madre le dispararon en las dos piernas, y a mi hijo menor también le dispararon en la pierna tangencialmente”, contó.

Otra mujer, de edad avanzada, señaló: “No hay medicinas. La gente está enterrada aquí, en el patio. Aquí tenemos gente enterrada, en el otro lado también”.

Tal vez, para alejarse de la devastación de alrededor, un hombre sentado en el patio lee serenamente un libro. “Mi escritor favorito, Valentín Pikul”, contesta cuando se le pregunta qué autor lee.

“10 días de vida así, ya estoy harto de todo. Estos disparos ya no me provocan ninguna reacción, créeme”, afirma cuando el corresponsal le dice: “Es usted un hombre de hierro”.

  • El pasado 24 de febrero, Rusia lanzó una operación militar especial para “desmilitarizar y desnazificar” Ucrania y poner fin a los acosos y al genocidio de la población de Donbass alentados por Kiev. 
  • Mientras tanto, los países occidentales continúan suministrando a diario armas a Ucrania para que haga frente al operativo militar de Moscú.

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Parto de uma Nova Era

Roberto Amaral, Cientista político e ex-ministro da Ciência e Tecnologia entre 2003 e 2004

O que está em jogo não é a “soberania ofendida” da Ucrânia, “mas o doloroso parto de uma nova ordem mundial”, avalia o colunista Roberto Amaral
A débâcle da União Soviética – simbolizando a vitória do capitalismo sobre as experiências do “socialismo real” –, deveria haver ensejado tanto o fim da Guerra Fria quanto a dissolução da OTAN, em face do esvaziamento do objetivo comum: o combate à “ameaça” comunista. Não foi, porém, o que se viu, quando a URSS, em 1991, não só renunciava, unilateralmente, ao comunismo, como se decompunha perdendo de saída, com a independência de várias de suas repúblicas, cerca de 40% de seu território. A antiga “sede do mal”, agora capitalista – porém um país capitalista pobre e exangue –, se oferecia ao Ocidente, que, vitorioso, tonitruava o fim da história. Soberbo, fez menoscabo da adesão do adversário derrotado. Reinava, desde Carter, a doutrina Brzezinski, que via a Eurásia, independentemente de sua quadra política, como um possível obstáculo ao domínio global dos EUA, que queriam incontestável, seja pelo adversário ideológico da Guerra Fria, seja por outra potência econômica capitalista que viesse a emergir.  Em 1991, no governo de George H.W. Bush, a “Orientação de política de defesa”, referindo-se ao mundo que se sucedia à queda do bloco comunista, afirmava que a prioridade estratégica dos EUA (isto é, da guerra), era impedir, no futuro, o surgimento de qualquer corrente global potencialmente ameaçadora da liderança de Washington. Paul Wolfowitz, subsecretário de Defesa, seu principal redator, esclarecia as preocupações do Pentágono, posto que a Rússia, mesmo capitalista e fragilizada, “continuaria sendo a potência militar mais forte da Eurásia”. Potência que, hoje, permanece como o segundo exército do mundo, dispondo, ademais, do maior acervo de ogivas nucleares do planeta, e se candidata à liderança de uma nova ordem mundial resultante do encontro da decadência do Império com a emergência da China como potência econômica, política e militar.
Impunha-se, então, nada obstante a opção pelo capitalismo, a tarefa de desconstituir a Rússia ou, no mínimo, mantê-la sitiada. Essa política continha o antigo império e fragilizava a estratégia chinesa, anulando a potência de seu principal aliado militar.
A estratégia dos EUA, vitoriosamente levada a cabo, consistiu em atrair  para a órbita ocidental (ou seja, da OTAN), sob seu comando, os Estados que compunham o antigo Leste Europeu. Em 1999, se incorporam à organização militar a República Tcheca (já desmembrada a Tchecoslováquia), a Hungria e a Polônia. Em 2004 é a vez da Bulgária, da Estônia, da Letônia, da Lituânia, da Romênia, da Eslováquia e da Eslovênia. Em 2009 ingressam Albânia e Croácia; em 2017 Montenegro e em 2020 a Macedônia do Norte. Essa politica de balcanização já destruíra a Iugoslávia, mediante guerra sangrenta, de que resultou seu despedaçamento em pequenos enclaves. O mesmo processo seria mais tarde levado a cabo no Iraque e no Afeganistão. Com a “Primavera árabe” chegaria à Tunísia, à Líbia, ao Egito e à Síria, ainda em guerra intestina.
Moscou estava destinada à asfixia. 
Para os objetivos dos EUA, portanto, a absorção da Ucrânia pela OTAN é o coroamento de uma política de expansão militar bem sucedida; para Moscou, impedi-la transforma-se em um imperativo de sobrevivência. A violência da invasão é seu desdobramento.
O “Comunicado Final da reunião de chefes de Estado e de governo da OTAN”, realizada em Bruxelas em 14 de junho de 2021, confirmava oficialmente que Bósnia-Herzegovina (fruto da destruição da Iugoslávia), Geórgia e Ucrânia aspiravam a se tornarem membros da Organização. O documento, em sua essência, deixava claro que antes e depois da debacle, antes e depois da adesão ao capitalismo, antes e depois de seu desastre econômico, antes e depois de Bóris Yeltsin, antes e depois de seu soerguimento sob Vladimir Putin, a Rússia fôra sempre uma obsessão para os estrategistas do Pentágono. Na última operação, preparatória da crise desses dias, os EUA haviam promovido o golpe de Estado na Ucrânia (2014) que derrubou o presidente constitucional Viktor Yanukovych, abrindo caminho para a ascensão de governos hostis à Rússia e às minorias russas, atacadas pelo exército ucraniano e milícias nazifascistas. O novo governo, um títere pró-EUA, transformou o projeto de adesão à OTAN em mandamento constitucional. Na sequência do golpe, em 2019, o Parlamento ucraniano modifica a Constituição para, já no preâmbulo, reafirmar a “identidade europeia do povo ucraniano e a irreversibilidade do curso europeu e euro-atlântico da Ucrânia”. Mas a declaração de guerra viria no parágrafo 5º do artigo 8º ao incumbir ao Parlamento o dever de implementar “o curso estratégico do Estado rumo à plena adesão da Ucrânia à União Europeia e à Organização do Tratado do Atlântico Norte”.
Tratando-se de sua sobrevivência, Moscou não estabeleceu limites, e a resposta ao que considera ameaça à sua soberania foi a invasão; o fracasso da diplomacia impôs a guerra, na qual todos estamos envolvidos, fundamentalmente em suas perdas, porque toda guerra é uma tragédia.
Como observou Aldo Fornazieri (“Uma guerra do século XX”, Carta Capital, 9/03/2022), “Antes da invasão da Ucrânia, a Rússia tinha a vantagem moral, pois suas demandas eram e ainda são legítimas. Mas ao agredir injustificadamente, colocou a vantagem moral na boca de líderes ocidentais que têm as mãos sujas de sangue”. Ocorre, porém, que a vantagem moral da Rússia jamais foi considerada pelos EUA e seus servidores.
Putin, embora reconhecido como bom jogador de xadrez, parece haver subestimado a resistência dos ucranianos e ignorado a capacidade do Ocidente de impor sanções. A Rússia enfrenta um isolamento que mesmo a URSS jamais conheceu. E de bandeja entrega aos EUA bandeiras que sempre pertenceram à Esquerda, como a defesa da autodeterminação dos povos, da paz e da negociação como instrumento de solução dos conflitos.
EUA e União Europeia, enquanto os embates se desenrolam na Ucrânia, estão massacrando os civis do Iêmen, armando a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos. Mas isso não faz sangrar os corações piedosos: os iemenitas são apenas árabes, não têm cabelos loiros nem olhos azuis.
Sob o pretexto da guerra, a pauta internacional anuncia mais exércitos, mais armas e mais conflitos. Sob os aplausos da UE, a Alemanha de Olaf Scholz promete um reforço de 100 bilhões de euros nos investimentos militares, a elevação do orçamento do exército de 1,5% para 2% do PIB,  ao tempo em que anuncia um programa de exportação de armas. Em festa o complexo industrial militar. A periferia que se cuide. 
Para alguns analistas, Moscou caiu em uma armadilha dos americanos. Se vero, terá sido a segunda vez, pois antes tropeçara na malsucedida intervenção militar no Afeganistão, uma guerra que começou perdida, enquanto a CIA, sob as ordens de Jimmy Carter, fortalecia as organizações terroristas que nos anos seguintes iriam ensanguentar metade do mundo. Zbigniew Brzezinski, o estrategista da Casa Branca, perguntado se não se havia arrependido de haver armado o terrorismo que ousara o 11 de novembro, respondeu dizendo que a destruição da URSS era a grande compensação. Para todos os efeitos, aos olhos do Império ora declinante, a Rússia é a sucessora da URSS.
A batalha da Ucrânia tem todos os ingredientes para se transformar em um estorvo mundial, posto que o que menos pesa é a integridade de seu território ou o direito de seu povo à autodeterminação. O que está em jogo corre por fora de seus interesses. Nesta briga, a Ucrânia (apesar de invadida e em guerra), não exerce o papel de sujeito. O que está em jogo não é sua soberania ofendida, mas o doloroso parto de uma nova ordem mundial; um jogo de poder, vital para as potências envolvidas, as quais, numa disputa de vida e de morte, de sobrevivência ou extinção, não conhecerão limites. Os EUA podem chegar ao final dessa guerra que alimentam sem a perda de um só homem: em seu nome morrem civis e militares ucranianos. O que está em disputa, e é pelo que velam os norte-americanos e a Europa submissa, é a definição da nova ordem mundial, pois vivemos os últimos tempos da hegemonia anglo-saxã, reinante desde pelo menos 1815, superada pela emergência da Eurásia. Trata-se do doloroso parto de uma nova hegemonia, que põe em xeque a decadência do Império ante a emergência da China; trata-se do possível trânsito do poder do Ocidente para o Oriente, do Atlântico para o Pacifico.  
A História não conhece transição pacífica de poder, e a disputa da história presente comporta todas as hipóteses de desfecho. Descartada a eventualidade de uma vitória esmagadora de um dos lados, tanto podemos caminhar para um limitado acordo de paz, que será mero interregno antes do próximo embate, quanto podemos caminhar para uma escalada de conflitos levando a economia mundial a uma crise sem precedentes, anunciadora de inflação e depressão – o que, sabidamente, é mais um elemento alimentador da guerra.
Este raciocínio não considera a ameaça do suicídio atômico.
Há um óbvio jogo. Aos EUA, em face do progressivo crescimento da China, é mais conveniente antecipar o desfecho. E, quando põe em risco a sobrevivência da Rússia, parceira fundamental de Beijing, Washington está mirando a China, seu verdadeiro adversário. Para a China a guerra é indesejável, pois espera ascender ao pódio conduzida pelo processo histórico que vê a seu favor.
Se sobreviver um mínimo de bom senso, os senhores da história presente evitarão vitórias (e derrotas) esmagadoras, e assim, darão mais tempo de vida à humanidade. 

A Omissão Fatal de Bolsonaro

Texto de Celso Rocha de Barros:

A CPI da Pandemia, que se aproxima de seu fim, provou a ocorrência do maior crime da história republicana brasileira. Encontrou os documentos certos, fez as contas certas e descobriu o CPF dos culpados.

A CPI provou, com documentos, que Jair Bolsonaro se recusou a comprar as vacinas oferecidas pela Pfizer e pelo Instituto Butantan, e que só comprou metade da oferta do consórcio Covax Facility.

Tudo documentado.

Com esse número de vacinas não compradas e os documentos que provam as datas em que elas poderiam estar disponíveis, os cientistas foram trabalhar. Eles sabem o quanto o número de mortes costuma cair conforme a vacinação progride.

Na conta do epidemiologista Pedro Hallal, feita a pedido da Folha, só as vacinas da Pfizer e do Butantan teriam salvado cerca de 90 mil pessoas. Bolsonaro matou essa gente só com duas decisões.

Por sua vez, o jornal O Estado de S. Paulo calculou que, só com as vacinas recusadas do Butantan, todos os idosos brasileiros teriam sido imunizados com duas doses até o fim de fevereiro, estando, portanto, todos imunizados a partir do meio de março. Entre o meio de março e o momento em que a reportagem foi publicada (27 de maio), 89 mil idosos morreram de Covid. Supondo que a mortalidade pós-vacinação de idosos fosse igual à do Chile (20% dos doentes), Bolsonaro matou, com uma única decisão, cerca de 70 mil idosos só entre o meio de março e maio deste ano.

Todas essas contas, que ainda não usam os números de vacinas que Bolsonaro se recusou a comprar do consórcio Covax Facility, foram apresentadas à CPI. O Ministério da Saúde tem gente que saberia refutá-las, se elas estivessem erradas. Ninguém se pronunciou.

A CPI também descobriu o que Bolsonaro estava fazendo em vez de comprar vacina: mandando os trabalhadores brasileiros para a rua para adoecer, mentindo que haveria remédio caso eles ficassem doentes.

A CPI documentou a existência de um gabinete paralelo de médicos estelionatários que, por dizerem o que Bolsonaro queria ouvir, tornaram-se mais influentes do que os técnicos do Ministério da Saúde. Foram eles que promoveram os tratamentos com remédios como a cloroquina, muito depois da ciência ter demonstrado que eles eram ineficazes.

Mais recentemente, veio à luz o caso da Prevent Senior, que executou experimentos em pacientes inocentes com o protocolo bolsonarista de cloroquina e similares. O tratamento fracassou, os pacientes morreram, mas os dados foram falsificados para que não se soubesse que os pacientes haviam morrido de Covid.

Finalmente, a CPI descobriu que o governo Bolsonaro se esforçou para que uma, e só uma, vacina específica fosse aprovada: a Covaxin, que ofereceu suborno à turma do deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo Bolsonaro na Câmara. O negócio foi denunciado antes de ser efetivado, mas não por iniciativa de Bolsonaro.

Em resumo, a CPI provou que Bolsonaro matou mais de cem mil brasileiros, mentiu para eles que haveria remédio caso adoecessem, e acobertou gente de seu governo que tentava roubar dinheiro de vacina.

As revelações da CPI terão algum efeito político? Tem gente poderosa trabalhando para que não. Mas as provas que a CPI recolheu não vão embora. Ficarão lá, à espera de um Brasil que volte a ter instituições que não se vendam nem tenham medo do próprio Exército.

Este texto é de Celso Costa de Barros e não foi editado.

Looping II – Memórias de uma segunda-feira vermelha, quente e doce

Einstein tinha muita razão quando disse que uma hora com a pessoa amada poderia parecer um segundo. Ainda mais se a intensidade dessa pessoa for elevada à décima potência.Há um ano desejando, sonhando, idealizando o momento desse encontro. Imaginando cenas, palavras, toques…Somente quando acontece é que temos noção da dimensão do que realmente existe: o […]

Looping II – Memórias de uma segunda-feira vermelha, quente e doce